terça-feira, 9 de agosto de 2011

Capitalismo de desastre

Capitalismo de desastre
Francisco Celso Calmon Ferreira da Silva
Em 25/09/2008 participei do ‘Ponto de vista’, nesta página de opinião, com o artigo ‘E agora, José?’, título do poema de Drummond, que me rendeu excelsas manifestações (até de quem eu não tinha contato há anos), entre as quais destaco: a de que o artigo estava radical, pois só faltou falar ‘abaixo o neoliberalismo’; e se, como eu dissera na abertura do artigo, tanto o socialismo real como o capitalismo do bem-estar social haviam fracassado, qual seria a alternativa?
Não gastei uma linha com o neoliberalismo por uma razão óbvia: está morto e enterrado, nenhum de seus fundamentos se mantêm de pé; nem o Estado mínimo, nem o mercado auto-regulador, nem a privatização como dogma e panacéia.
Um dia após o presidente Bush dos EUA ter feito um apelo ao povo americano para apoiar o pacote de socorro aos bancos, centenas de americanos foram às ruas protestar e denunciar as falhas do capitalismo e manifestar a defesa da democracia.
“O Capital vira manual da crise” – manchete da imprensa alemã, noticiando que após duas décadas da queda do muro de Berlim há uma corrida às livrarias pelo clássico de Karl Marx , que analisa o modo de produção capitalista. Capa da revista britânica Economist: "Capitalismo acuado". Economistas de diferentes matizes e países declaram: “certamente haverá outra bolha daqui a alguns anos, impossível hoje dizer qual será”.
O presidente da França levanta a bandeira da “refundação global do capitalismo, a serviço do cidadão”, incontinenti G. Bush marcou reunião com os principais líderes mundiais para tratar da proposta. Só mesmo uma hecatombe no império para trazer à razão aos mandatários do mundo globalizado, entretanto, o resultado da reunião foi pífio.
A sociedade mundial não deve ficar passiva, pois a recessão atinge principalmente os trabalhadores. E a hora é esta da juventude defender o seu futuro!
A economia real não produz o pleno emprego e necessita do exército de desempregados para pressionar para baixo os salários, vem sucateando o planeta via destruição dos recursos ambientais, e o sistema financeiro - que não produz riqueza, pródigo na criação e multiplicação dos chamados derivativos - uma fartura de papéis de créditos e débitos, sem lastros reais, cujos prejuízos à economia foram maiores que seus eventuais benefícios - tomou a dimensão de um imponente cassino virtual dez vezes maior do que o PIB mundial. O BIS – o Banco de Compensações Internacionais - estima um volume de ativos financeiros em circulação em todo o mundo da ordem de US$ 600 trilhões, enquanto PIB mundial é estimado em US$ 60 trilhões (informação no jornal Valor de 01/10/2008).
Não será nessa estação que o capitalismo será substituído. A ocasião é propícia e necessária para reformá-lo, e o caminho, a meu juízo, está na democratização da economia. Para isso, o sistema tem que funcionar sob três eixos: o da competição pelo lucro, o social (geração de empregos e equilíbrio de renda) e o ecológico (restauração e manutenção do planeta), e para administrá-lo será imprescindível a existência do planejamento, setorial e global, com metas, elaborado por organismos democráticos. E o capital financeiro terá que estar a serviço da economia real, não pode ter dinâmica própria, e juros e cambio a favor do país.
A era do ‘Senhor Mercado’ jogar em sua roleta e as perdas serem bancados pelo Estado e pagas pelo contribuinte acabou. Discute-se é se o sistema bancário deve ser estatizado ou se a regulamentação irá resolver. Inaugurar-se-á a era do Senhor Cidadão!  Esqueçamos, pois, as fracassadas agências de classificação de risco.
Como a banca está em fagocitose os governos acertam quando injetam recursos diretamente na economia real, em especial na tecnologia verde, na educação e na infra-estrutura, e erram quando injetam nos bancos, porque será comido pelos fagócitos financeiros.
“Você marcha, José! / José, pra onde?” E Obama, muda até onde?
Publicado em AG em dezembro de 2008)
                                              Francisco Celso Calmon é consultor organizacional.

--
  esta mensagem foi enviada para o  Grupo "Saberpolitica" saberpolitica@googlegroups.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário