Antônio Medeiros
Atualizado em 25/10/2012
Já é razoável consenso entre analistas da cena política brasileira que o PT saiu do primeiro turno das eleições municipais de 2012 como o partido mais votado, com os seus mais de 17 milhões de votos, e com um crescimento também em termos de número de prefeitos, com os seus agora mais de 600 prefeitos. Assim, mesmo sem contar com os resultados do segundo turno das eleições municipais, pode-se afirmar que o crescimento do PT é o mais consistente entre os partidos nacionais. Fernando Rodrigues registrou que “nenhum partido cresce de maneira orgânica e consistente como o PT a cada disputa municipal. A sigla sempre se sai melhor. PMDB, PSDB, DEM (o antigo PFL), e outros já tiveram dias de glória, mas acumulam também vários revezes. O PT, não. Só cresce” (Folha de S. Paulo, 20/10/2012).
No país como um todo, o PSB cresceu muito nestas eleições de 2012, mas ainda está para ser visto se este crescimento terá, ao longo do tempo, a mesma consistência que tem o crescimento do PT de 1988 a 2012. Isto ainda sem considerar os resultados do segundo turno nas cidades com mais de 200 mil eleitores. E, muito menos, sem considerar os resultados da eleição paulistana. Tudo somado, tudo indica que - como constatou o mesmo Fernando Rodrigues sem fazer julgamentos de valor - , o eleitor “elege seu prefeito e entrega à sigla de Lula um grande voto de confiança para fazer do PT cada vez mais um partido hegemônico no país” (Folha, 20/10/2012).
Em instigante entrevista ao Valor, o sociólogo Luiz Werneck Vianna, da PUC-Rio, vê na emergência de nomes como Fernando Haddad, em São Paulo, e de Marcio Pochmann, em Campinas, um processo de mudança geracional e de renovação no PT, iniciado com a eleição da presidente Dilma. Ele levanta a hipótese de um processo de “aggiornamento” no interior do PT (VALOR, 25/10/2012). Assim, além de ter crescido de forma consistente, a despeito da Ação Penal 470, o PT estaria também diante de um processo interno de renovação de lideranças e da consolidação de uma situação de partido hegemônico no país.
No Espírito Santo, entretanto, pode-se afirmar que o PT é um ponto fora da curva, como diriam os estatísticos. Aqui, considerando-se ainda os resultados apenas do primeiro turno das eleições municipais de 2012, o PT ficou em modesto quarto lugar tanto em número de votos quanto em número de prefeitos eleitos, atrás do PSB, do PMDB, e do PDT. Foi derrotado em Vitória e Cariacica e, sem dúvida, ficou menor eleitoralmente e menos relevante politicamente. Teve 212.827 votos, contra 387.763 do PSB, o mais votado. Elegeu apenas 6 prefeitos, contra 19 do PSB, 13 do PMDB e 7 do PDT.
Para aonde vai o PT capixaba? Parodiando Luiz Werneck Vianna, penso que o PT capixaba precisa passar por um processo de “aggiornamento” para voltar a ter maior relevância política e eleitoral no Espírito Santo. Sua maior liderança, João Coser, termina o mandato de prefeito em Vitória politicamente menor. Sua liderança que parecia ascendente, Hélder Salomão, perdeu as eleições em Cariacica e também sai politicamente menor depois de dois mandatos. Iriny Lopes teve um corajoso desempenho com a sua candidatura em Vitória, mas foi alvejada pela fadiga de material da política local e também pela recorrente disputa interna no PT local e regional, que o faz “perder dele mesmo” desde os tempos de Vitor Buaiz no governo estadual.
E assim por diante. Para completar, existem acordes dissonantes: Leonardo Deptulski, em Colatina, é uma liderança ligada ao ex-prefeito Guerino Balestrassi, que apoiou a candidatura do PSDB em Vitória; e Carlos Casteglione, em Cachoeiro de Itapemirim, aliou-se ao PMDB conservador de Camilo Cola. Uma salada indigesta que incomodou os chamados petistas históricos e confundiu a militância.
Com exceção do período em que contou com a liderança regional então ascendente de Vitor Buaiz, entre 1985 e 1995, liderança esta abatida pelo próprio PT, o PT não repetiu no Espírito Santo a mesma trajetória de crescimento consistente que experimenta no Brasil como um todo há vários anos - tanto no plano municipal, quanto no plano regional. Agora, em 2012, ele sai menor das eleições e precisa ter capacidade política para avaliar o que pode ser feito para recuperar relevância relativa na política capixaba. Não basta dizer que o PT tem o vice-governador, seis prefeitos e 212.827 votos. É preciso ouvir os sinais emitidos por sua liderança maior, Lula, e admitir que está na hora de buscar o caminho do “aggiornamento”. Começando por reconhecer também que na maioria das vezes ele perde dele mesmo...
Nenhum comentário:
Postar um comentário