segunda-feira, 27 de junho de 2011

Conspiração contra a verdade, a história e a memória.

Edno Araujo*
Estamos assistindo, perplexos, à enorme conspiração contra a verdade, a história e a memória.

O Ministério da Defesa, o Ministério das Relações Exteriores, dois ex-presidentes da República, políticos de diferentes matizes, se unem para que o Brasil não conheça a sua verdade.
  
Já é difícil fazer filmes, livros e peças de teatro sobre personagens reais -- mesmo os de vida pública, sem autorização do próprio ou de familiares e herdeiros. Agora, a pá de cal chega com a intenção de  trancafiar documentos para que a verdadeira História não se revele.

E quem orquestra essa trama contra o futuro do Brasil? Sim, porque povo  sem memória é povo sem futuro e estaremos sujeitos eternamente a sermos  alimentados por contos da carochinha. Mas, afinal, o que querem esconder de  nós? Quem bateu, torturou, mandou prender e arrebentar? Quem negou  passaportes, quem expedia os tenebrosos atestados ideológicos, que impediam  o acesso à escola ou ao emprego?

Estive duas vezas n Smithsonian Institute em Washington. Na primeira,  percorri uma exposição que retratava às condições de vida dos negros nos  Estados Unidos e as lutas pela conquista dos seus direitos civicos.
Estavam ali expostas todas as mazelas de uma sociedade que destinava banheiros públicos e bebedouros diferentes para negros e brancos. Escolas  diferentes, lugares separados nos transportes públicos, os mais confortáveis  e em maior quantidade sempre destinados aos brancos. E se faltasse lugar, o  negro sentado deveria ceder o lugar ao branco. Uma sociedade que queimava  jovens por razões de cor se expunha ali como um ato de superação do passado, de construção do novo.

A segunda vez, assisti a exposição que tratava das condições de vida dos  imigrantes japoneses e seus descendentes nos Estados Unidos durante a  Segunda Guerra Mundial. Vi coisas que nem os livros escolares nem o cinema  americano me contaram. Vi fotos de lojas de japoneses atacadas por  norte-americanos enfurecidos com os araques japoneses a Pearl Harbor, imagens de familias sendo recolhidas aos campos de concentração nos Estados  Unidos para isolar o perigo amarelo e imagens de batalhões de jovens  soldados nipo-americanos para guerrear diretamento om o exército japonês  como um afirmação do patriotismo norte-americano! A exposição termina com uma carta do então Presidente Ronald Reagan pedindo desculpas à comunidade  japonesa pelas humilhações impostas.

Querem nos impedir de saber a verdade sobre a guerra do Paraguai, ao que  parece, uma verdadeira carnificina praticada para atender interesses de  poderoso banqueiro inglês. Nós não podemos saber o que os paraguaios sabem e  contam a seus filhos, por que?

Resistirão almirantes, generais e marechais à lupa da História? Suas  biografias corresponderão às narrativas descritas nas pinturas das grandes  batalhas? O silêncio que nos impõem deve ser a razão porque não cultivamos  nossos heróis e não preservamos sua memória, a total falta de identificação  de identidade com eles.

Os que nos negam conhecer a verdadeira História do país são cúmplices das  carnificinas, dos torturadores, dos alcaguetes a soldo do Estado; dos que  ordenaram censurar jornais, revistas, peças de teatro e músicas.

Não podemos nos calar e aceitar como fato consumado essa violência da censura que tentam nos impor. Construir um país livre representa lutar para  conhecer a história. Não queremos cultivar falsos heróis e, a partir de hoje, personagens da história oficial estarão sob suspeita, enquanto não nos deixarem conhecer os documentos que abrigam verdades, que, mesmo dolorosas,  devem ser reveladas.
*Edno Araujo Publicou no facebook Grupo "Consciência Política Razão Social"

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