sábado, 25 de junho de 2011

Rejuvenescer o PT


 Por Cesar Augusto Oller do Nascimento

Para que os Filiados, os Simpatizantes e principalmente os Dirigentes do - PT- Partido dos Trabalhadores Reflitam:
"É PRECISO REJUVENESCER O PT"

Minha geração – estou com 63 anos, sou, portanto, politicamente, da geração de 1964/1968 – a qual ADMIRO E RESPEITO, certamente fizemos e, provavelmente, continuaremos fazendo ainda muito por nosso país – só para citar um companheiro – Lula – e uma companheira  -´Dilma Rousseff – é suficiente para garantirmos tal certeza. Isto, porém, não significa que não devamos estar preocupados, particularmente NOSSA GERAÇÃO – em Rejuvenescermos nosso Partido.

Este, reputo, deve ser um dos focos principais de nossas estratégias presentes e futuras, para que não tenhamos que reproduzir o que ocorreu em outros partidos de esquerda no Brasil, que tinham quadros de mais de 60 anos como presidente de sua Juventude, ou como nosso velho Fidel Castro que, no processo de transição a faz com um quadro mais jovem – com 80 anos...

Não estou falando de nenhuma Revolução Cultural como a da China de Mao ou, muito menos, as “perestroikas” da ex União Soviética. O que gostaria é de fazer um convite aos companheiros para que reflitamos como atrairmos a juventude de nosso país – o qual, pelos dados do Censo de 2010, está envelhecendo – para que tenham sejam ativos no interior do PT preparando-se para assumirem suas rédeas em prazos os mais curtos possíveis,  fazendo parte de nossos governos, mas participando e  articulando- se nos mais diversos  movimentos sociais, sindicais e de cidadania que se multiplicam pelo país.
Ao se dar uma olhada na História da esquerda, seja no Brasil, seja mundo afora, certamente reflexões e preocupações como a de buscarmos caminhos para o rejuvenescimento do  PT ganham sentido. Em função do avanço institucional rápido (em termos de tempo histórico) que o PT teve ao eleger prefeitos, governadores e, finalmente, assumindo a Presidência da República pela terceira vez consecutiva, o Partido foi obrigado a conduzir um significativo conjunto  de jovens petistas, por todo o Brasil, a, por assim dizer, “saltar etapas” em sua formação e atuação política e partidária. Este “salto” minha geração não fez.
Antes de participarmos da direção e gestão do aparato estatal brasileira, em todos seus níveis, brigamos nas ruas – a maioria – ou na clandestinidade – a minoria – na luta pela derrubada da ditadura militar que nos assolou (e ao conjunto do país) de 1964 a 1985 (para fixarmos um período de nossa história). A partir de 1977,1978, passamos pelas experiências de articulações nos movimentos da sociedade civil e na vida partidária - sempre extremamente ativa.

Com nossos avanços eleitorais,a partir, sobretudo, do governo de Luísa Erundina na Capital do Estado de São Paulo e de algumas outras Prefeituras brasileiras, em 1988 ( ano no qual, a maioria dos hoje velhos ativistas do PT éramos, ainda,  jovens) e, portanto, com as demandas de governo, muitos dos nossos companheiros mais jovens saltaram de sua pouca experiência de articulações com movimentos sociais, sindicais e de cidadania os mais diferenciados, para postos de governo, aos quais deveriam dar respostas políticas e de gestão.

Por diversos motivos históricos que não cabe aqui discutir, mas que, em sua maioria, foram muito positivos para a sociedade brasileira, fomos paulatinamente -e seguimos - nos afastando das discussões mais de base e nos transformamos[i] em um partido de base parlamentar – provavelmente  mais democrático do que a maioria dos partidos brasileiros - mas afastados das visões de um partido de massas, com forte articulação nas bases organizadas da sociedade, como originalmente pretendíamos criar.
Não estou dizendo, com isto, imaginar ou pretender um “retorno a nossas origens” ou ao “nosso passado” - a História, as demandas de nossa sociedade e meus cabelos brancos não permitem tal intenção, até porque creio que as novas gerações são sempre melhores do que as anteriores. O que pretendo discutir com essa reflexão referente a “Rejuvenescer o  PT”  é, pelo contrário,  o de querer entender, da forma mais orgânica possível, a nova realidade que exatamente nossas ações e nossas idéias criaram e contribuíram para a criação desta sociedade brasileira contemporânea a nós.
Os "velhos guerreiros”, como você dizem alguns e algumas, de alguma forma “seguem a postos”. Mas o mundo mudou e continuará mudando. Nós poderemos acompanhar essas mudanças até um certo ponto e até um certo momento, mas – graças aos nossos limites físicos, mentais, naturais e humanos - não sermos  permanentes,  eternos e/ou imortais.Podemos e queremos, sermos de alguma forma lembrados pela História e pelas gerações futuras e, por isso, ainda queremos ajudar a que o que semeamos continue a dar frutos. Mas, para que isso ocorra,  é que precisamos, desde já e sempre, nos preocuparmos com esse permanente “aggiornamento” não só de nossas  idéias mas de nossos quadros e nossas propostas.
Certamente a moçada precisa conhecer nossas experiências. Para tanto aproximarmos nossa geração dos meios virtuais pelos quais a juventude hoje se comunica é uma ação bastante eficiente. Mas mais importante do que repassarmos nossas experiências é entendermos como essa juventude pensa, sente e age.
Qual seja, para podermos transmitir nossas experiências e ajudarmos ainda a construir o futuro, é preciso que nossa geração entenda essa nova sociedade a qual ajudamos a construir, mas que certamente – e felizmente – não é igual àquela que vivemos em nossa juventude e nem se construiu à imagem e semelhança do que pretendíamos  construir.
 O que creio precisarmos é nos "aggionarmos" de modo a ganharmos a contemporaneidade necessária para seguirmos juntos - nossa geração e as novas - ajudando a transformar a sociedade brasileira e, por que não, na justa e relativa medida, a Humanidade.
Precisamos nos perguntar : essa juventude encontra espaço dentro do partido? Quais as mudanças - que certamente ajudamos a fazer - a sociedade brasileira passou e está passando que levou a essa realidade, seja nossa, como partido, seja da juventude do país? Há algum tempo atrás conversava com um quadro extremamente interessante da juventude do PC do B e comentava com ele que o PC do B acabou focando dois temas que ajudaram e seguem ajudando-os em seu "aggiornamento": a própria Juventude e os Esportes. Ele levantou a questão que creio ter colocado acima e que diz respeito à entrada - precoce, diria - de diversos jovens petistas na máquina de Estado - prefeituras, governos estaduais e governo federal - criando uma espécie de "juventude chapa branca", o que para um partido com as características do PT é, para falar o menos, PÉSSIMO.
Outra questão é que a minha geração era a geração da Universidade Pública elitista, restrita, combativa, certamente, mas vanguardista e, de certo modo, exclusivista. O avanço da democracia e a distribuição da renda acabou por criar um novo perfil de juventude universitária - a das faculdades e universidades privadas,pagas, portanto, e algumas a peso de ouro, voltadas para ajudar (ao menos em teoria) a entrar-se no mundo do trabalho, e pelas quais as jovens trabalhadoras e os jovens trabalhadores, que na década de 1960 e 1970 ou estavam continuando a estudar nos "paus de arara" (não os da tortura, ainda que algumas ou alguns entraram neles também, mas o dos caminhões) que os levavam para o nosso Sul Maravilha para trabalharem naquelas imensas fábricas, forjando o movimento sindical e as lideranças que hoje fazem parte, em sua maioria,  da direção do PT, nosso ex presidente inclusive.ou que acabaram tornando-se a massa das favelas das grandes regiões metropolitanas brasileiras. Entre a década de 1970 e a de 1980 nós conseguimos - até porque o éramos - entendermos as ansiedades e as demandas da juventude - nossas próprias ansiedades e nossas próprias demandas, portanto. E hoje? Estamos sabendo? Fica a questão.
Essa questão não poderia ser respondida, dentre outras, evidentemente,  a partir da cultura? Não será por meio dela que poderemos retomar uma ação da Juventude junto à maioria da população brasileir4a, a qual abandona – graças às brigas históricas e à nossa política nos dois mandatos Lula e nesse novo mandato Dilma – a pobreza e ganha fôlego para melhores condições e qualidade de vida? Mas como transformar essa juventude, que avança econômica e socialmente na Pirâmide Social brasileira, de consumidores a cidadãos engajados nas ações políticas do país e não apenas como eleitores?
Recentemente o jornal “Valor” publicou um artigo extremamente interessante[ii] sobre a juventude da hoje denominada “nova classe média brasileira”. Nesse artigo o autor entrevista uma jovem, Perla Assunção, de 26 anos, a qual, segundo o autor, “é parte da primeira geração em sua família que pode se dar ao luxo de consumir livros, espetáculos teatrais e entrada de museu. Filha de pedreiro, formou-se em jornalismo mas trocou o trabalho em redações por uma ONG, para transmitir a jovens de bairros suburbanos a noção de que o enriquecimento cultural é tão importante quanto a afluência financeira.”Para quem fica só no plano do consumo, a ascensão social é momentânea. Se perder o dinheiro, perde tudo. É preciso ter um repertório melhor para entender a si próprio no meio de tudo o que está acontecendo”.
A consciência da importância da cultura expressa por Perla Assunção pode ser um bom orientador de caminhos que o o PT poderá trilhar para, de um lado, não nos tornarmos um Partido Geriátrico e, de outro, rompermos com a estrutura de uma Juventude prioritariamente “Chapa Branca”.
Voltar às ações de massa via cultura poderá, também, contribuir para reequilibrarmos o PT como gestor da coisa pública mas não somente como um Partido Parlamentar Democrático, mas, também, um partido capaz de responder adequadamente às demandas que já vem e seguirão sendo postas em função da nova sociedade brasileira que seguimos ajudando a construir.

[i] - Em 1983 escrevi um texto a respeito disso: PT: Partido de Massas, Partido de Quadros ou Partido Parlamentar?

[ii] Viana, Diego -  "A ascenção é cultural" "Valor" de 22 de maio de 2011 o qual foca a seguinte questão: "Mercado e governo procuram formas de captar a demanda por arte e lazer da classe C”

Por: Cesar Augusto Oller do Nascimento
Salvador, 11 de junho de 2011

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