terça-feira, 24 de abril de 2012

Púlpito, Tribuna, Mídia e Calçadas

Púlpito, Tribuna, Mídia e Calçadas

Para lançar o meu livro Identidade Capixaba, um dos lugares escolhido foi a Av. Jerônimo Monteiro, em frente ao Correio, em Vitória. Quase apanhei do “dono da calçada” armado com um macaco de fusca. O homem só ficou tranquilo quando, na conversa tensa que tivemos, mencionei que a TV Educativa vinha filmar o lançamento. A partir dessa revelação conquistei um parceiro que me ajudou muito naquele dia. Em 1977 uma senhora me apresentou a outra como um grande artista, porque me havia  visto na televisão.
Ninguém duvida do poder da mídia para conceber, gestar, desenvolver, dourar e universalizar uma ideia.
A natureza da arte, semelhante à do amor, é o tipo de relação que se estabelece entre a peça (abstrata ou concreta) criada pelo artista e o observador. Portanto, se não houver público, fica no vir a ser...
Quando a mídia informada ignora um evento que se pretende artístico (sensibilizar pessoas), diminui, sufoca ou até mata a arte no nascedouro. Não havendo crítica (positiva ou negativa), a única opinião percebida pelo artista é a da sua insignificância.
Isso é perigoso para qualquer sociedade democrática. Sem informações (tese/antítese), como realizar uma escolha pessoal consciente?
Até o aparecimento da mídia moderna, as igrejas eram as grandes difusoras das informações. Sermões dominicais magníficos eram elaborados durante toda uma semana (jornalista, têm que fazer vários por dia), e o pregador, em cenário apropriado, contando com total atenção do público, sensibilizava a plateia com assuntos que escolhia. Padres e pastores, com sólida formação acadêmica em teologia, sociologia, psicologia e oratória, se revelaram grandes artistas, propagando a fé nas suas religiões. Este ano, o tema da Campanha da Fraternidade, “Saúde Pública”, não foi desenvolvido na Festa da Penha, como sempre acontecia. Escolheram: “Maria, Mãe de Jesus o Cristo da Paz”. A Vale patrocinou a Festa, e o maior problema de saúde pública que enfrentamos é a poluição do solo, águas e ar, categoria em que a empresa patrocinadora conquistou o “Oscar da Vergonha Ambiental”.
O lema da Campanha da Fraternidade desenvolvido na Festa da Penha de 2010 — “Vocês não devem servir a Deus e ao dinheiro”— foi esquecido. Milhares de fitinhas com o nome da empresa foram distribuídas, mas os banheiros à disposição durante a festa eram um atentado à saúde do público.
Políticos têm suas tribunas oficiais nas câmaras, assembleias e Senado. Como ouvir deles uma voz sonora, se a conta de seus partidos está abastecida com contribuições generosas das grandes poluidoras?
No primeiro ano do projeto A VALE, A VACA E A PENA (1997), obtivemos um formidável apoio da mídia capixaba. Passados 16 anos, o acervo da Casa da Memória cresceu com desenhos feitos a cada ano, e as telas podem ser comparadas. Manifestações teatrais, musicais, poéticas, literárias e vídeos foram incorporados ao projeto. O site www.galveas.com registra.
Instalações, exposições itinerantes por locais de grande público e a Internet permitiram que milhões de capixabas e cidadãos do mundo todo pudessem ver as telas desenhadas com a poluição atmosférica da Grande Vitória.
Nossa mídia, após a privatização das grandes empresas de Tubarão que passaram a investir pesado em parcerias e publicidade, esqueceu nosso trabalho enriquecido ao longo de 16 anos. Solitária, julgamos essa provocação artística necessária pela omissão dos grandes comunicadores.
Assim, continuamos nas calçadas e Internet, tribunas livres.
Kleber Galvêas, pintor. Tel. 3244 7115 www.galveas.com

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