Púlpito, Tribuna, Mídia e Calçadas
Para
lançar o meu livro Identidade
Capixaba, um dos lugares escolhido foi a Av. Jerônimo Monteiro, em frente
ao Correio, em Vitória.
Quase apanhei do “dono da calçada” armado com um macaco de
fusca. O homem só ficou tranquilo quando, na conversa tensa que tivemos,
mencionei que a TV Educativa vinha filmar o lançamento. A partir dessa
revelação conquistei um parceiro que me ajudou muito naquele dia. Em 1977 uma
senhora me apresentou a outra como um grande artista, porque me havia visto na televisão.
Ninguém
duvida do poder da mídia para conceber, gestar, desenvolver, dourar e
universalizar uma ideia.
A
natureza da arte, semelhante à do amor, é o tipo de relação que se estabelece
entre a peça (abstrata ou concreta) criada pelo artista e o observador.
Portanto, se não houver público, fica no vir a ser...
Quando
a mídia informada ignora um evento que se pretende artístico (sensibilizar
pessoas), diminui, sufoca ou até mata a arte no nascedouro. Não havendo crítica
(positiva ou negativa), a única opinião percebida pelo artista é a da sua
insignificância.
Isso
é perigoso para qualquer sociedade democrática. Sem informações
(tese/antítese), como realizar uma escolha pessoal consciente?
Até o
aparecimento da mídia moderna, as igrejas eram as grandes difusoras das
informações. Sermões dominicais magníficos eram elaborados durante toda uma
semana (jornalista, têm que fazer vários por dia), e o pregador, em cenário
apropriado, contando com total atenção do público, sensibilizava a plateia com
assuntos que escolhia. Padres e pastores, com sólida formação acadêmica em
teologia, sociologia, psicologia e oratória, se revelaram grandes artistas,
propagando a fé nas suas religiões. Este ano, o tema da Campanha da
Fraternidade, “Saúde Pública”, não foi desenvolvido na Festa da Penha, como
sempre acontecia. Escolheram: “Maria, Mãe de Jesus o Cristo da Paz”. A Vale
patrocinou a Festa, e o maior problema de saúde pública que enfrentamos é a
poluição do solo, águas e ar, categoria em que a empresa patrocinadora
conquistou o “Oscar da Vergonha Ambiental”.
O
lema da Campanha da Fraternidade desenvolvido na Festa da Penha de 2010 —
“Vocês não devem servir a Deus e ao dinheiro”— foi esquecido. Milhares de
fitinhas com o nome da empresa foram distribuídas, mas os banheiros à
disposição durante a festa eram um atentado à saúde do público.
Políticos
têm suas tribunas oficiais nas câmaras, assembleias e Senado. Como ouvir deles
uma voz sonora, se a conta de seus partidos está abastecida com contribuições
generosas das grandes poluidoras?
No
primeiro ano do projeto A VALE, A VACA E A PENA (1997), obtivemos um formidável
apoio da mídia capixaba. Passados 16 anos, o acervo da Casa da Memória cresceu
com desenhos feitos a cada ano, e as telas podem ser comparadas. Manifestações
teatrais, musicais, poéticas, literárias e vídeos foram incorporados ao
projeto. O site www.galveas.com registra.
Instalações,
exposições itinerantes por locais de grande público e a Internet permitiram que
milhões de capixabas e cidadãos do mundo todo pudessem ver as telas desenhadas
com a poluição atmosférica da Grande Vitória.
Nossa
mídia, após a privatização das grandes empresas de Tubarão que passaram a
investir pesado em parcerias e publicidade, esqueceu nosso trabalho enriquecido
ao longo de 16 anos. Solitária, julgamos essa provocação artística necessária
pela omissão dos grandes comunicadores.
Assim,
continuamos nas calçadas e Internet, tribunas livres.
Nenhum comentário:
Postar um comentário