No dia 30 de abril de 1981 uma bomba explodiu dentro de um carro no estacionamento do Riocentro O Globo / Arquivo
O segredo está em arquivos que eram guardados em casa pelo coronel
reformado do Exército Julio Miguel Molinas Dias — assassinado aos 78 anos,
em 1º de novembro, em Porto Alegre, vítima de um crime ainda nebuloso.
Molinas Dias era, na época do atentado, comandante do Destacamento de
Operações e Informações — Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi)
do Rio de Janeiro, o Aparelhão. O arquivo do coronel continha 200 páginas,
várias delas encabeçadas pelo carimbo “confidencial” ou “reservado”.
O calhamaço evidencia que o aparelho repressivo militar tentou maquiar o cenário
do Riocentro para fazer com que as explosões parecessem obra de guerrilheiros
esquerdistas.
Os registros estavam guardados pelo minucioso oficial. A unidade comandada por
Molinas era responsável por espionar e reprimir opositores ao regime militar.
O DOI-Codi era localizado dentro do 1º Batalhão de Polícia do Exército, na Rua Barão
de Mesquita, no bairro da Tijuca. Ao se aposentar, o coronel levou para casa documentos
preciosos, contando pormenores da sigilosa rotina da caserna. O dossiê deixa transparecer
que a bomba no Riocentro também fez estragos dentro da sede do DOI-Codi, distante
30 quilômetros do centro de eventos.
Oficiais forjaram o cenário
Em meio aos papéis, surgem evidências de que oficiais forjaram fatos. Há inclusive uma
orientação para simular o furto do veículo pertencente ao sargento que morreu na explosão,
no sentido de desaparecer com pistas que seriam comprometedoras.
O acervo de Molinas foi arrecadado pela Polícia Civil gaúcha após o assassinato dele e revela
detalhes inéditos do lado de dentro dos portões de uma das mais temidas unidades das Forças
Armadas durante os anos de chumbo
“Zero Hora” teve acesso a memorandos datilografados e também manuscritos, no qual o
coronel registra a mobilização que se instalou naquele quartel-sede da espionagem política do
Brasil, imediatamente após a explosão. São ordens, contraordens e telefonemas com a
finalidade de evitar que fatos e versões indigestas ao Exército viessem à tona.
Os papéis contêm medidas de prevenção para segurança de militares, recomendações para
não serem fotografados e relação de bombas e artefatos explosivos no paiol do quartel para
destruição coletiva e individual. Mas o mais espesso lote de documentos do coronel é do tempo
em que ele dava as ordens no comando do DOI.
De próprio punho, o coronel Molinas teria redigido parte desses memorandos, divididos em dias,
horas e minutos. Trabalho facilitado porque era detalhista. Em meio à papelada sobressaem-se
relatórios sobre o desastroso atentado no centro de convenções Riocentro. Uma das duas bombas
que explodiram durante um show musical acabou matando o sargento Guilherme Pereira do Rosário
e ferindo com gravidade o capitão Wilson Luiz Chaves Machado, chefe da seção de Operações do
DOI-Codi.
Os papéis do coronel Molinas mostram que Rosário tinha o codinome de Agente Wagner e Wilson
era chamado Dr. Marcos (militares de baixa patente eram chamados de agentes e oficiais eram
doutores, na gíria da espionagem).
Via SILVIO PINHEIRO
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