terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Sobre os rolezinhos - Entrevista de Rudá Guedes Ricci para o El País








Por Rudá Guedes Ricci – publicado no grupo Consciência Política – Facebook

Minha entrevista ao El País sobre os rolezinhos

Os rolezinhos nascem de dois sentimentos que se cruzam. O primeiro, fruto da inclusão pelo consumo provocado pelo lulismo. Não houve inclusão social pela luta pelos direitos (motivada por mobilizações e protestos sociais que, vitoriosos, gerariam identidade social e política) ou pela política (fruto de engajamento sindical ou partidário). A inclusão pelo consumo disseminou que prestígio social se vincula a bens adquiridos, se possível, top de linha. O segundo sentimento é o ressentimento, fruto da condição social dos moradores da periferia. Não está diretamente vinculado ao padrão de consumo (vários deles possuem casas com TV tela plana, celulares e tênis de última geração), mas ao descaso dos governantes (não possuem áreas ou programas culturais ou de lazer e são tratados com violência pela polícia) e, principalmente, pela discriminação das classes médias tradicionais. Por este motivo andam em multidão (mais de 1000 jovens nos rolezinhos), porque sabem que em pequeno grupo, sofrerão discriminação. Em grupos maiores, tomam o espaço que não os acolhe com muito ânimo. A partir daí, trata-se de uma ação infantil, nem mesmo adolescente: correm, "barbarizam" com gritos, uma ação primária de demarcação de espaço e uma denúncia velada da discriminação (afinal, ao barbarizarem estão reforçando o que os que discriminam já explicitam com olhares de recriminação). Não há qualquer sinal de confronto de classe. O sinal é de agressividade, mas não violência (os freudianos sustentam que agressividade é sinal de defesa e normalidade, violência é patologia). Mas aí, entram os políticos e polícia militar para politizar esta situação. Os políticos se preocupam com a reação da classe média, que ainda acreditam que sejam formadores de opinião eleitoral (o que não é fato no Brasil, desde 2006, segundo demonstram vários estudos sobre processo eleitoral). Acionam a PM que não possui cultura de respeito à diferença social. Avaliam qualquer situação fora do padrão de normalidade imposto por estas áreas de consumo sofisticado como perturbação da ordem. E atacam, como qualquer treinamento militar. Atacam o inimigo em potencial. Aí, podem estar politizando algo que é uma reação infantil. De fato, os rolezinhos geram quebra de domínio de território por uma classe um ou comportamento específico de classe. Mas não é mais que uma reação infantil, de quem se sente discriminado e quer estar lá e ter prestígio ou reconhecimento que, como já ressaltei, em nosso país significa bens de alto consumo. Em uma palavra: quem está politizando esta brincadeira infantil é a PM. Algo similar ao que já fez em junho do ano passado. E vimos em que desaguou.

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