O impasse do salário mínimo
Tecnicamente e seguindo o acordado com as centrais sindicais como
política de valorização do salário mínimo, a proposta do governo de
elevar o piso salarial do país de R$ 510 para R$ 545 faz sentido. Mas é
pouco palatável para trabalhadores e aposentados a resistência do
governo em ceder aos R$ 580 defendidos pelas centrais.
Durante o governo Lula, um acordo com as centrais sindicais
estabeleceu que a correção do salário mínimo se daria pela inflação do
ano anterior e pela variação do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos
antes. Essa política garantiu aos trabalhadores ganhos reais sucessivos
em relação à inflação, o que impactou no poder de compra da população e
contribuiu para manter a economia aquecida mesmo no período de crise
global, de 2008 a 2009.
O atual salário mínimo, de R$ 510, garante a compra de 2,5 cestas
básicas na média das dez capitais que o Dieese pesquisa, o que impacta
nas camadas mais pobres da população, preocupação principal do governo
Lula, e que Dilma promete manter.
Seguindo a regra estabelecida, o reajuste do mínimo agora não trará
ganho real, já que o crescimento do PIB em 2009 foi negativo (-0,2%),
mas ano que vem deverá dar um salto, com base no crescimento de 7,5% do
PIB em 2010. A regra é clara. Ganha-se quando o país cresce e apenas se repõe a inflação quando ele figa estagnado.
Mas regras, acordos e tratados podem ser revistos de acordo com as
circunstâncias. O próprio governo Lula foi generoso neste sentido em sua
atuação internacional, aceitando rever contratos, como o de Itaipu, no
Paraguai, para contribuir com o desenvolvimento do país vizinho.
Como o Brasil saiu rapidamente da crise, que ainda perturba a Europa e
os EUA, e obteve um crescimento significativo de sua economia em 2010, a
inflexibilidade não se justifica. Sem irresponsabilidade fiscal,
considerando o impacto que o reajuste do mínimo tem na Previdência e nas
contas públicas, poderia perfeitamente chegar a um valor intermediário
entre o que propõe e o que é defendido pelas centrais, reafirmando sua
política de valorização do mínimo.
O que agride a população é ver desperdício do dinheiro público e
aumentos abusivos dos salários dos parlamentares, enquanto o mínimo é
contado em centavos. É evidente que o impacto da variação do salário
mínimo é muito maior do que o de certas categorias sem referência na
realidade brasileira, mas um empenho do governo em manter seu ganho real
seria muito bem vindo.
O governo teria de mostrar à população de onde está tirando o
dinheiro para um reajuste mais alto, o que seria salutar em termos de
compreensão da política e ainda desmascararia oportunistas, que defendem
aumentos por conveniência, sem se preocupar com as fontes de
financiamento.
Ao invés de ameaçar os parlamentares de que a compensação para
qualquer elevação maior do mínimo poderá ser um sacrifício das emendas
individuais, já deveria apresentar essa possibilidade à população.
Emendas individuais geralmente são paroquiais, que servem para cultivar a
velha forma de fazer política, com a construção de ginásios e creches
para eleitorados particulares.
Sacrificar emendas individuais em nome de um aumento do salário
mínimo deveria ser exigido como um ato nobre de políticos tão
preocupados com o bem estar da população. Poderiam também, a título de
sugestão, abrir mão de R$ 6 mil de seus salários mensalmente, o que os
deixaria com um subsídio polpudo de R$ 20 mil, exatamente o que seria
obtido se tivessem atido o reajuste à inflação do período anterior. Como
está sendo proposto para o salário mínimo.
Olá!! Seguindo!!
ResponderExcluirwww.neointerativo.com