quarta-feira, 29 de junho de 2011

“O MELHOR EMPREGO DO MUNDO” - E Elles querem mais

“O MELHOR EMPREGO DO MUNDO”


Laerte Braga


O ex-deputado José Bonifácio Lafaiete Andrada, uma das figuras proeminentes do golpe militar de 1964 (foi presidente da Câmara e líder da ARENA) costumava recomendar a deputados do MDB uma postura mais moderada e ao final de seu receituário dizia mais ou menos o seguinte – “isso aqui é o melhor emprego do mundo. Não tem horário, se ganha bem, tem um monte de vantagens e é só saber manejar as coisas para renovar o contrato a cada quatro anos”.

Referia-se ao “emprego” de deputado federal. Os Andradas, como se sabe, chegaram ao Brasil na frota de Cabral, vale dizer, em navio chapa branca. Uma ou outra exceção, como Martin Francisco. Os dois. O ministro da Fazenda de D. Pedro I e o técnico de futebol campeão espanhol e ao qual se atribui a criação do 4-2-4.

A Federação brasileira é uma balela. Incompleta, inexiste no conceito clássico de estados federados. Tivéssemos aqui a legislação norte-americana, por exemplo, as elites econômicas iam querer um golpe de estado alegando que comunistas estavam no poder.

São elites pré-históricas, no máximo descobriram o garfo e a faca, mas até hoje têm dúvidas sobre se o guardanapo deve ser colocado ao colo ou preso à camisa, ao colarinho.

Entendem de colarinho claro, mas branco, que empesteiam com seu atraso e a corrupção generalizada do modelo político e econômico que montaram desde tempos imemoriais.

Tenho a impressão, não há provas ainda os arqueólogos no futuro terão que resolver esse enigma, que foram as nossas elites que inventaram o tal sapato plataforma para as mulheres e as abotoaduras para os homens.

Mas vai daí que chegamos ao extinto estado do Espírito Santo. Não difere muito de outros onde pontuam elites ferozes e disfarçadas de café com atenção ao dedo mindinho para não deixá-lo saliente e assim não trair a origem (segundo as normas de etiqueta). O fato de ocupar uma área menor – território – acentua o caráter de suas elites (semelhantes a qualquer elite maranhense, ou mineira, ou paulista) e uma particularidade deu projeção nacional àquela extinta unidade federativa.

Hoje é latifúndio de empresas como a ARACRUZ, SAMARCO, CST, etc.

A violência como complemento da corrupção quase plena e absoluta.

O povo é adereço. Induzido a acreditar que amanhã um governador, digamos Paulo Hartung, vá construir um edifício que vai alcançar os céus e ter contato direto com o Criador.

O tijolo, note bem, a unidade, o tijolo, vai custar dezenove reais cada. Imaginem o preço da tal torre de Babel, mas enfim, respirar toda a poluição da grande Vitória é dotar os pulmões do vigor do progresso e do bem estar... Das elites. E em comunhão direta com o Criador? De joelhos meu, agora, cem flexões por pensar besteira sobre essa santidade que governou o estado oito anos.

A casa da família Camata, por exemplo. Na Ilha dos Frades. Uma espécie de paraíso que aos poucos vai sendo privatizado com garantia da Polícia Militar (organização terrorista que garante as elites ali).  Nem com cem mandatos de senador do parceiro de Aécio Neves, e duzentos de deputada de sua consorte. Só com muita mutreta, lógico.

Há um filme clássico com James Stewart, me esqueço sempre o nome, em que agências de pesquisa nos Estados Unidos saem à cata de uma cidade que reflita a média da opinião dos norte-americanos. Custos mais baixos, não haveria necessidade de pesquisar todo o país, ou estado, ou muitas cidades, garantia de bons resultados e uma auditoria vez por outra para não incorrer em eventuais erros no caso de mudança de opinião dessa média de pensamento dos habitantes da tal cidade.

O extinto Espírito Santo pode situar-se como média do comportamento e do pensamento da classe política brasileira, das elites brasileiras. Tem de tudo. Pastor senador que fala que vai renunciar se determinada lei passar, mas não vai renunciar coisa alguma, é cretino por natureza. Governador bandido, governador banana, o anterior e o atual. Deputados estaduais e federais sem caráter algum, na base do quero o meu e uma lata de vinte quilos de presunção em forma de gordura acumulada nos mandatos/negócios com os donos da área que outrora se chamou Espírito Santo.

É só acompanhar. Vamos tomar como exemplo os deputados federais e estaduais, o prefeito de Vitória e o governador do Estado, o atual, além do anterior. Desde o início da vida pública até os dias de hoje. O patrimônio que construíram. Da quitinete à paradisíaca Ilha dos Frades em casas de quarteirão inteiro.

É de fato o “melhor emprego do mundo”.

Que venha o “progresso”. Aquele mundão de máquinas, aquela parafernália toda para explorar a riqueza do extinto Estado e, uma baita banana para o cidadão, conduzido pela mídia (no caso a REDE GAZETA) ao papel de pateta que compra a Torrei Eifell achando que está comprando um poço de petróleo (já foi vendida assim pelo menos duas vezes no início do século passado).

E junta toda uma gangue com siglas que indicam federação de indústrias, de comércio, de progressistas, Lions clube, Rotary, ONGs, cada qual tomando conta dum negócio, dum ponto, duma área, como cada qual se confraternizando no estilo definido por Chico Buarque de Holanda em A ÓPERA DO MALANDRO – banqueiros e donos de bordéis – “como os ricos são felizes.

Dispõem de todo o aparato indispensável a áreas de legalidade. Aparência é tudo. Polícia, justiça, legislativo. Metade do tribunal superior do estado foi presa no ano passado por delitos menores assim me paga que eu solto. 

Nada que seja diferente do desembargador mineiro que ao invés de pagar pensão à ex-esposa arranjou um emprego para a dita no valor da citada pensão no velho tribunal, lógico.

E a coisa rola até que alguém grite e alguma providência seja, aparentemente, tomada.

No caso do extinto Espírito Santo não. Desmatam, saqueiam terras de quilombolas, índios, escravizam trabalhadores, poluem e destroem o ambiente transformando a área em foco de doenças respiratórias e todas outras, chamam isso de progresso e uma vez por ano, que ninguém é de ferro, Paris, Londres, não importa que sejam cidades decadentes, importante é passar pelo Arco do Triunfo e se imaginar um Napoleão ou um De Gaulle.

No duro mesmo, vamos assentar, pensar, analisar, olhar os fatos, verificar a matemática, ou aritmética do tijolo a dezenove reais a unidade e vamos perguntar – “por que Paulo Hartung está solto e Beira-mar preso”? – Já imaginaram o efeito cascata disso? Prefeitos, deputados, vereadores, secretários, desembargadores, etc, etc?

O que Beira-mar fez de pior que Paulo Hartung? Um trafica drogas, outro traficou um estado inteiro transformando-o em latifúndio de empresários corruptos e que não têm nada ver com o Estado, mas com seus interesses.

É preciso pensar no progresso com algo que ou é comum a todos, ou é privilégio.   

Um prefeito de Vitória contemplou um amigo preso com uma vitória numa licitação para compensar a “dor” e o “sofrimento” do “pobre coitado”. Já pensou o cara preso? Roubou, pintou o diabo, mas afinal toma café sem deixar o mindinho levantado e conhece Paris, pô!  Isso é atenuante absolutória!

Aí, pegue todos esses ingredientes e jogue num balde tamanho Brasil. É o mesmo em Minas. No Rio com Sérgio Cabral. Imagine o Maranhão com a quadrilha Sarney?

Olhe, Olívio Dutra foi deputado, prefeito de Porto Alegre, governador do Rio Grande do Sul e vive de sua aposentadoria de funcionário do Banco do Brasil. Nada além do que trabalhou.    

Tem que fazer uma estátua do dito em todas as cidades do País. Mas já ouvi dizer que se trata de um “bobo” que não soube aproveitar.

A corrupção é a doença principal, ou a causa principal da doença? Não, é o modelo.

É fácil comprar mandatos de deputados, senadores, vereadores, prefeitos, governadores, tudo no tal financiamento privado de campanha eleitorais. No Espírito Santo o latifúndio que toma conta do extinto estado fechou porteira quando comprou. Um ou outro conseguiu pular a cerca e se manter incólume. 

Vai um melhor emprego do mundo aí? É só fingir que é democrata e pronto. O resto é sim senhor faremos tudo o que o mestre mandar.

Tem CPI não. Tudo acaba em Lama

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