O GOVERNADOR E O ASSASSINATO DO JUIZ
Laerte Braga
Tentar escolher um estado da Federação (de mentirinha) brasileira para servir de referência em termos de índices quase absolutos de corrupção, barbárie, essas coisas corriqueiras do dia a dia do mundo institucional é difícil.
Seja porque a mídia privada é parte do processo de corrupção e degradação da vida pública, atrelada que é a interesses dos principais acionistas do Estado brasileiro e dos vinte e seis estados da Federação, além, lógico, do Distrito Federal. Seja porque o céu que se pinta azul, o cenário que se mostra deslumbrante refletem apenas o marketing de especialistas em transformar catástrofes em algo paradisíaco. Ou demônios em anjos.
Os maranhenses, por exemplo. Não têm culpa da família Sarney. Nem os baianos da família ACM. Ou os mineiros das famílias que repartem o poder no estado. Há toda uma estrutura a serviço dessa gente e a máquina estatal transformada em propriedade privada, logo, garantindo a existência dessas oligarquias.
Sérgio Cabral é um descalabro. Caiu a máscara do bom moço. O governador sorridente, que pacifica, ouve o povo, está no bolso e nos aviões de grandes empreiteiros, num dolce far niente, do faz de conta que governo o Rio de Janeiro. Saqueia, é diferente.
O extinto estado do Espírito Santo serve de exemplo para definir um lugar onde tudo o que acontece em Minas, São Paulo, Maranhão, etc, acontece por ali em termos quase absolutos.
O ex-governador Paulo Hartung é a soma de toda a podridão que se possa imaginar possível. Passou oito anos servindo aos donos do estado (ARACRUZ, SAMARCO, CST e outros menores). Qualquer ato de corrupção ou de barbárie imaginável ou inimaginável o ex-governador praticou.
Esse movimento maluco que aparece por aí convocando brasileiros a manifestarem-se em agosto contra algumas coisas, entre elas o auxílio reclusão – remanescentes da ditadura acuados na covardia dos documentos secretos da tortura – podia, tranquilamente, criar um sistema para aproveitamento desse tipo de político, Paulo Hartung em penitenciárias.
O risco é Beira-mar virar fichinha perto do ex-governador e qualquer grande traficante, pistoleiro, latifundiários (vamos supor, para efeito de raciocínio que tenha algum preso).
Professor de crime. Organizador de quadrilhas à prova de justiça e da Justiça. Não haveria estranheza na hipótese de acontecer algo assim, de Beira-mar ficar com a tarefa de lustrar os tacões assassinos de Hartung.
O juiz federal Alexandre Martins investigava no extinto Espírito Santo o crime organizado. Começa no Palácio do governo, o que já é complicado, passa pelo Tribunal de Justiça e tem ramificações profundas na Assembléia Legislativa e bancada federal.
Um estado que foi governado por Gérson Camata, não sei quantas vezes senador, sócio em negócios familiares de Aécio Neves, não pode imaginar nada positivo. A não ser que seja para ele e seus “negócios”.
Como no estado do Rio o último governador decente foi Leonel Brizola, de lá para cá só bandido. No Espírito Santo a exceção de Max Mauro e Vítor Buaiz, o resto – resto mesmo – dá nó em pingo d’água e desentorta banana em matéria de banditismo.
O juiz Alexandre Martins foi assassinado. Na manhã de 24 de março de 2003 foi executado numa rua da cidade de Vila Velha, Grande Vitória. Alexandre Martins de Castro Filho. Estava levantando fatos e dados incômodos a Paulo Hartung e seus cúmplices – os donos do estado –. Decidiram executar o juiz, contrataram o ou os assassinos e pronto. Pagamento feito, tarefa cumprida, missa de sétimo dia marcada. ( materia Integra Congresso Em Foco; Seculo Diario - 2007, link final postagem)
De lá para cá um tal de segura a barra, inventa história, arranja culpado falso, suspeitos que não têm nada a ver com o caso, um jeito de fazer o tempo passar rápido e cair no esquecimento – para isso tiveram e têm a cumplicidade da maior empresa de mídia privada do estado, a REDE GAZETA, ligada a GLOBO o que não é novidade, novidade seria o contrário –, enfim, tentativas de evitar qualquer investigação que levasse aos verdadeiros responsáveis e acima de tudo, por envolver, como mandante, um governador, terminasse na federalização do crime, ou seja, passasse à esfera da Justiça Federal.
Uma história de horror contada por veículos independentes de mídia como o jornal on line SÉCULO DIÁRIO, mas mantida dentro de um cofre de atrocidades guardado a sete chaves por Paulo Hartung e sua quadrilha. Nisso daí, inclusive, o silêncio covarde do pai do juiz. Diga-se de passagem também magistrado, digamos assim. É muita esculhambação com a palavra, mas vá lá.
Um dos advogados contratados pelo pai do juiz para prestar serviços de auxílio ao Ministério Público devolveu os honorários que havia recebido ao perceber que sua ação ficaria limitada à verdade oficial, vale dizer, a mentira. Devolveu e denunciou publicamente o fato.
O coronel PM Carlos Augusto de Oliveira Ribeiro, presidente da Associação da PM e do Corpo de Bombeiros no extinto Espírito Santo, denunciou, sem meias palavras, que o ex-governador Paulo Hartung fez de tudo para impedir que o inquérito e agora processo fosse para a Justiça Federal, pois sabia que a verdade poderia e pode vir a tona e complicá-lo. Foi o mandante do crime. Por esse e por outros estaria fulminado.(Vide integra)
Qualquer paralelepípedo, como diria Nélson Rodrigues, sabe da história e do envolvimento de Paulo Hartung. O problema é fazer com que a máquina estatal, corrompida, funcione e chegue ao ponto desejado, a verdade.
O atual governador – Renato Casagrande – é um fraco. Não vai mexer nessa história nem debaixo de pancada, sabe que governa o ingovernável, que por baixo das aparências oficiais está o verdadeiro capataz dos donos do extinto Espírito Santo, Paulo Hartung. O vice então é o que chamamos panaca. Ou panacão para ser mais preciso.
A Justiça essa então! Metade do Tribunal de Justiça do extinto estado foi presa numa operação da Polícia Federal. A turma da venda de sentenças e outras fraudes, como sentar em cima de processos, etc, etc. A Assembléia? Olhe, onde existe um Carlos Verezza, ou um Genivaldo Lievori não vai a lugar nenhum que não show. O tal negócio do “eu faço” e depois some, não faz nada.
O caso é tão escabroso que o ex-governador montou um esquema de grampo dentro da REDE GAZETA, com cumplicidade dos donos, para saber que jornalistas estavam tentando “prejudicá-lo”. Um escândalo que ficou para lá também. Isso à época dos fatos, o esforço concentrado da turma para abafar e esconder a verdade.
Rodney Miranda, deputado estadual, é presidente da Comissão Parlamentar de Segurança. O cara esteve envolvido em tortura, tem seu nome na lista de torturadores das Nações Unidas. Outro envolvido na história, no crime.
Uma história de horror. Lembra as barbáries que latifundiários cometem contra camponeses e pequenos proprietários no Pará. Ou abusos de empresas contra trabalhadores. Corrupção de governos estaduais diante do poder de grandes empresários, banqueiros. Podridão da grande mídia. Enredo completo, não falta nada. Filme que se convencionou chamar de B, aquele que você passa perto de um beco e Jack o Estripador sai de lá e esquadrinha/navalha cada parte de seu corpo.
Boa parte dessa gente é oriunda da ditadura militar. Outros não, claro, apenas mudaram de lado, escolheram o “sou, mas quem não é”. Ou o “fazer o que?”
No bom português a maioria na conversa de ou dá ou desce preferiu não descer. Ficou.
E Paulo Hartung continua a governar de fato o extinto estado do Espírito Santo, Casagrande faz de conta que tem uma bússola, se é que sabe o que é isso e assim, vida que segue, um dos estados brasileiros com verdadeiros paraísos ecológicos vai se transformando, na sanha de criminosos, em síntese do que conhecemos como crime organizado.
Destruído no tal progresso que só beneficia a turma de cima.
Se Capone vivesse hoje duvido que iria optar por Chicago. Pelas bandas do extinto Espírito Santo os “negócios” são mais lucrativos e os riscos de ser pego praticamente inexistem.
Abaixo os links onde a história pode ser lida em totum.
Morte do juiz Alexandre mostra envolvimento do governo com o crime organizado, acusa jornalista José Carlos Bacchetti Pela segunda vez, o site Congresso em Foco traz uma matéria especial apontando os nomes do governador Paulo Hartung (PMDB/foto à esquerda) e do seu ex-vice governador e atual deputado federal Lelo Coimbra (PMDB/foto à direita) como acusados de envolvimento com o crime organizado no Estado. A matéria investigativa intitulada Hora de Apurar, publicada pela primeira vez na sexta-feira (30), está assinada pela jornalista Maria Elena Azevedo, que conseguiu chegar a esses resultados ao ter acesso ao inquérito da morte do juiz Alexandre Martins de Castro Filho. Na noite anterior ao crime - apurou a jornalista -, o juiz Alexandre Martins, sem saber que o seu telefone estava grampeado, ligou para a dona da academia de ginástica, a personal trainner Júlia Eugênia Fontoura, informando o horário em que iria estar lá. Quando chegava à academia de ginástica, que fica localizada em Itapoã, em Vila Velha, ele foi emboscado e morto com três tiros. Os executores foram reconhecidos porque a moto em que se encontravam não tinha placa fria, mas uma placa com registro no Detran-ES. Além disso, eles retiraram os capacetes e acabaram identificados e presos mais adiante por causa de um defeito na motocicleta. O juiz Alexandre Martins integrava a força tarefa federal com missão de combater o crime organizado no Estado. Foi o juiz Alexandre que ouviu, 13 dias antes de sua morte, o preso Wanderley da Silva Ferreira, o Thor do Imperito, em 11 de março de 2003. Thor do Imperito havia acusado o ex-vereador e membro da Scuderie Detetive Lê Cocq José Coimbra (PSDB) e o próprio deputado Lelo Coimbra de participação no assassinato do segurança do Clube Náutico Brasil José Carlos Preciosa, crime ocorrido em 1993. Thor falou da sua relação de amizade com os irmãos Coimbra e das irregularidades em contratos firmados na década de 1990, nas áreas de limpeza urbana e manutenção de galerias pluviais pela prefeitura de Vitória, gestão de Paulo Hartung, que administrou a cidade entre 1993 a 1996. A empresa prestadora dos serviços era a Hidrobrasil, do ex-PM Sebastião Pagotto, apontado pela Polícia Federal como mandante do assassinato do advogado Marcelo Denadai, em abril de 2002. Este denunciara fraudes em licitações da prefeitura em um contrato, no valor de R$ 4,9 milhões, para a limpeza de fossas e galerias. A outra empresa de Pagotto, a Desentupidora Líder, recebeu R$ 3 milhões da prefeitura de outro município, Cariacica, segundo o Tribunal de Contas do Estado, para pagamento de serviços inexistentes ou sem a devida emissão de notas fiscais. Por ocasião dessas denúncias, o advogado Marcelo Denadai acabou assassinado por pistoleiros. Ele, segundo Thor do Império, estava descobrindo o envolvimento do vereador Coimbra no sentido de acobertar o prefeito Paulo Hartung. De acordo com a repórter Maria Helena Azevedo, a morte do advogado Marcelo Denadai deflagrou o pedido de intervenção federal no Estado, aceito pelo então ministro da Justiça, Miguel Reale, e pelo ex-presidente Fernando Hernique Cardoso, que, pressionado por políticos capixabas, voltou atrás. Miguel Reale , que já havia sido autorizado a anunciar a intervenção, e o fez, sentiu-se desconsiderado e se demitiu, como fartamente foi noticiado à época. O governo federal substituiu a intervenção pela missão especial, que reuniria procuradores da República, policiais federais, juízes e promotores de alta qualificação técnica com o objetivo de investigar e reprimir o crime organizado no Espírito Santo. Além do juiz Alexandre, um outro juiz - Carlos Eduardo Ribeiro Lemos - integrava a missão especial com o mesmo objetivo, combater o crime organizado. O chefe da missão especial era o subprocurador da República José Roberto Santoro, que tomou conhecimento de que um dos dois estava marcado para morrer e fez uma advertência dramática aos dois juízes da Vara de Execuções Penais, na frente de pelo menos três testemunhas ouvidas pela repórter Maria Elena Azevedo. "Reforcem a segurança. Um de vocês vai morrer". Na quinta-feira, dia 20 de março de 2003, o juiz Alexandre comentou com a personal trainner Júlia ter sido chamado pelo governador Paulo Hartung, que lhe teria oferecido segurança. Paulo Hartung, segundo Júlia, teria oferecido dois policiais. O juiz Alexandre teria aceitado, mas deixou claro que ele não queria nem PM e nem agente federal, já que ele mesmo escolheria os policiais, como de fato ocorreu. De acordo com Júlia, no momento em que o governador lhe ofereceu segurança, já sabia que "queriam matá-lo". E isto teria sido dito pela vítima na academia: 'Quando ele me ofereceu segurança, eu já sabia que a intenção dele era me matar e por isso aceitei. Se resistisse, tiraria a responsabilidade deles e se algo acontecesse comigo eles ficariam livres, poderiam dizer, eu ofereci a segurança, ele é que não aceitou". A repórter Maria Elena Azevedo disse a este Século Diário que a conclusão a que chegou com a reportagem é que a morte do juiz tem outros mandantes, e que a imprensa local sabia dessas informações, mas por causa de pressão política e econômica, acabou publicando declarações cortadas. A matéria, disse ela, busca também respostas dela como repórter e como integrante sociedade. Há 20 anos militando no jornalismo, ao começar a trabalhar a matéria Maria Elena se desvinculou da assessoria da deputada federal Iriny Lopes (PT) para ter total isenção no trabalho de apuração e na elaboração do texto. Ela defende que o caso continue sendo investigado. "Não investigar dá um mal estar", disse Maria Elena, acrescentando: "Fiz a minha parte. A íntegra da matéria especial está no site "Congresso em Foco". Clique aqui |
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